É bom comer um prato que se goste. É bom dormir, bom fazer amor. É bom um dia ensolarado e seco. É bom sentir-se em forma. É bom telefonema de amigo.
Eu escreveria páginas e páginas citando tudo o que é bom nesta vida, porque felizmente tem muita coisa ótima do lado de fora dos telejornais. Até algumas coisas ruins são boas. Só que aí exige-se uma certa reflexão.
É bom sentir angústia? É. A angústia alerta você para suas necessidades. A angústia indica que alguma coisa não está bem e, a partir disso, gera mudança.
Assim também é com o choro. Tem gente que acha bom chorar, eu não gosta.
Fico com o rosto inchado e me sinto vulnerável demais. Mas é justamente por causa desta vulnerabilidade que chorar é bom. Alivia nossa sensação de termos superpoderes, é a exteriorização da nossa fragilidade, a evidência de sermos reles cidadãos comuns.
Sentir ciúmes é bom, desde que sem exagero. Demonstra que temos noção de que nada é eterno, nem mesmo o amor que alguém sente por nós, e que poderemos ser trocados a qualquer minuto. Sentir raiva e ódio dizem que não é legal, mas um pouquinho só, tudo bem. É bom para que a gente aprenda que eles são sentimentos que não servem pra nada, só nos desgastam.
Confusão mental? Acho um problema, mas dizem que é bom. Queremos o quê, o nirvana 24 horas por dia?
É preciso se confundir um pouco: uma hora achar que estamos certos, em outra achar que estamos errados, ficar na dúvida entre dizer sim e não. Num momento achar que estamos precisando de terapia, em outro achar que estamos precisando apenas de uma boa noite de sono. Uma cabeça movimentada.
Tristeza é bom? A princípio, não. Mas se você for poeta, pode render alguns versos comoventes, e se além de poeta você for tagarela, pode faze-lo silenciar um pouco. Sua tristeza talvez não seja boa pra você, mas é para os outros.
Dor-de-dente! Agora quero ver. Pois pode ser bom também. Se você não sentisse dor, seu dente iria apodrecer e precisaria ser arrancado. A dor sinalizou o perigo e salvou seu dente da extinção.
Quase tudo é bom quando se olha para o lado certo...
(Patricia Segatto)
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